
Eu sei que já devem ter lido V de vingança , ou visto o filme. Mas pra quem não viu, eu recomendo e vou falar um pouco aqui do tema.
Geralmente se recomenda leia o livro (ou o quadrinho), e depois veja o filme. Mas comigo essa pratica se aplica ao contrario; eu prefiro ver o filme e depois o livro. Aconteceu comigo quando li e vi Harry Potter. Não sei explicar só que quando li A Ordem da Fenix e depois assiti o filme, senti que estava faltando muita coisa, pois já sabia também de coisas que ia acontecer e coisas que não estavam no livro. Já vendo o filme e depois o livro, parece que você descobre novas coisas sobre o assunto que não sabia, e começa a entender melhor. Bom comigo funciona assim. Então vamos falar um pouco de V. Eu já tinha assistido o filme e achei muito legal. Depois um amigo meu me emprestou o comix , ( Vlw Ignácio) e eu entendi melhor sobre a história.

Sobre a Obra
V de Vingança foi publicado originalmente entre 1982 e 1983 em preto e branco pela editora britânica Warrior, mas não chegou a ser finalizado. Em 1988, incentivados pela DC Comics, Moore e Lloyd retomaram a série e a concluíram com uma edição colorida. A série completa foi republicada nos EUA pelo selo Vertigo da DC e no Reino Unido pela Titan Books. No Brasil, foi publicada em 1989 em cinco edições em cores pela editora Globo e mais tarde pela Via Lettera, em dois volumes em preto e branco; em 2006 teve uma edição especial pela Panini, em volume único, colorido e com material extra.
Enredo
O enredo é situado num passado futurista (uma espécie de passado alternativo), numa realidade em que um partido de cunho Totalitário ascende ao poder após uma guerra nuclear. A semelhança com o regime Nazista e Stalinista é inevitável devido ao fato do governo ter o controle sobre a mídia, a existência de uma polícia secreta, campos de concentração para minorias raciais e sexuais, muito perto do que pensou Hannah Arendt no seu livro "Origens do totalitárismo" de 1951.
Existe também um sistema de monitoramento feito por câmeras nos moldes de "1984", de George Orwell, escrito em 1948. (Na época, o CCTV ainda não existia tal como o é hoje na Inglaterra quando a obra foi escrita).
História

Após um aparente hecatombe nuclear, a Inglaterra mergulha no caos. Depois de algum tempo, a ordem volta a se estabelecer, mas de forma ditatorial. Um governo fascista caça os direitos civis, impõe a censura e rechaça qualquer tentativa de oposição ao que impõe.
O medo profetizado no século XX, do estado vigiando o cidadão e tolhendo sua liberdade de expressão, se materializa nessa Inglaterra onde o estado tem olhos, ouvidos, nariz e dedos.
Como já ocorreu na história real do mundo, nessa ficção os ditadores também têm seus campos de concentração, nos quais os não adequados à nova ordem são interrogados, torturados, mortos e, algumas vezes, submetidos aos mais asquerosos experimentos.
Eis que mesmo nesse regime totalitário/fascista uma voz se levanta e ousa proclamar a possibilidade de uma outra forma de vida, na qual não haja regras e leis arbitrárias, em que a liberdade e as individualidades sejam valorizadas e conduzam a um novo cenário, um personagem designado simplesmente "V" é o porta-voz dessa idéia.
Vitima de um dos abomináveis campos de concentração, "V" esteve no fundo do poço, e sem ter mais para onde cair, a única opção era se erguer.

Aos poucos, se faz claro que "V", mais que uma pessoa, representa um conceito, uma idéia.
"V" defende a anarquia pura, a necessidade de destruir o atual e daí se criar um novo. Obviamente, uma sociedade reprimida por um estado totalitário responde rapidamente, se apegando ao conceito como tábua de salvação. Assim, os ideais anarquistas se multiplicam e encontra eco.
Mais do que uma mártir, um herói ou um revolucionário, "V" representa o ideal anarquista que prima pela ausência de domínio e pelo direito individual.
Ao passear por um mundo fascista fictício, onde todos os aspectos da vida cotidiana são censurados, inclusive os culturais, como livros, músicas, teatro, cinema etc, Alan Moore ao mesmo tempo evidencia a importância da cultura para a manutenção das liberdades individuais e alfineta a ignorância dos detentores do poder. Num sistema em que o estado vigia a liberdade, a pergunta nasce espontaneamente: quem vigia os vigilantes?

Um texto com predições sombrias e visão política clara sobre o papel do estado na vida do cidadão, na mesma linha do livro 1984, de George Orwell. Moore mostra um mundo no qual o estado vigia e oprime o cidadão.
Se o texto de Alan Moore é esplendido, o mesmo se pode dizer da arte de David Lloyd. O artista cria uma Londres noir, nostálgica e paradoxalmente futurista. O uso de luz e sombras em doses exatas proporciona ora a percepção do pessimismo reinante (e ai se vê uma cidade triste e sombria), ora um vislumbre da esperança observada, sobretudo, na face das pessoas.
Apesar do sistema Totalitário ser definido por vários autores, como Hannah Arendt pensou. A história em quadrinho obra foi escrita num momento histórico que a Inglaterra, estava implementando o sistema Capitalista Neoliberal com a primeira ministra Margareth Thatcher. Ao mesmo tempo o "Socialismo Real" da extinta U.R.S.S. (atual Rússia), estava em total descredito devido aos horrores do Stalinismo.

O que abre a perspectiva que "V", (codi)nome do protagnista, ter uma postura Anarquista, pois como definiu tanto Enrico Malatesta no seu livro "Escritos revolucionários" e outros Anarquistas, como Mikhail Bakunin, Pierre Joseph Proudhon, Max Stirner, Emma Goldman, Piotr Kropotkin e Henry David Thoreau; o Estado é visto como limitador da Liberdade, sendo assim todo Estado passa a ser Totalitário.